sexta-feira, 27 de maio de 2011

Uma atitude heróica perante a vida ([1])

           Sair fora do caráter é como nascer. Quebrar a concha é equivalente a confrontar a morte.

           Viver dentro da concha parece garantir a sobrevivência, mesmo se ela representar uma severa limitação ao ser da pessoa. Ficar dentro da concha e sofrer parece mais seguro do que arriscar um confronto com a morte, em busca da liberdade e do júbilo.

           Esta posição é conscientemente escolhida. É uma atitude que deriva de uma lição amargamente aprendida no passado e que não é fácil de esquecer.

           A situação é verdadeiramente trágica. Romper a concha é arriscar a morte, mas ficar dentro é uma morte viva que inevitavelmente se torna uma morte verdadeira e concreta.
          
           A morte é um destino que não se pode escapar. A pergunta então é a seguinte: Como se morre? A pessoa pode morrer como um herói ou como um covarde. A diferença é que o herói pode encarar a morte sem medo, ao passo que o covarde não o consegue.

           Mas podemos perguntar: o que faz de uma pessoa um herói, e de outra um covarde? A resposta a esta pergunta exige o reconhecimento de que o herói é mais caracterizado como ele vive do que como ele morre. Descrevo o herói como uma pessoa que não tem medo da vida, que pode encarar a vida de frente. E, por não ter medo da vida, não tem medo da morte.

           Há um ditado segundo o qual o herói morre uma vez, mas o covarde passa por mil mortes. Quando a pessoa morreu muitas vezes de medo, acaba sendo um covarde. Seu espírito foi violado.

            Fomos forçados a construir conchas que aprisionam nossos espíritos. Quanto mais grossa a concha, mais temerosos somos. Tornamo-nos covardes, com medo de sairmos casca, medrosos de nos arriscarmos e morrer em nome da liberdade. E, cada vez que pensamos em romper a proteção e fracassamos, morremos novamente de medo. Como desenvolver uma atitude heróica perante a vida?


[1]  Lowen, Alexander, 1910 – Medo da vida:  caminhos da realização pessoal pela vitória sobre o medo (tradução de Maria Silvia Mourão Netto) – São Paulo:  Summus, 1986.   Pags. 190 e 191.

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